Na Mídia

O Gralha

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Super-herói curitibano das HQs volta a ser editado e ganha o seu segundo álbum de histórias
O Vigilante das Araucárias enfrenta novamente o maligno CranianoTexto por Abonico R. Smith
Foto: Reprodução
Gustavo Gomes está de volta. O adolescente um tanto atrapalhado porém completamente voluntarioso andou quieto por um pouco mais de uma década. Agora seu retorno está garantido. E em definitivo.
O Gralha é o grande super-herói que Curitiba ganhou no final do século passado. Concebido por um coletivo de amigos quadrinistas – ambos muito jovens e ainda dando seus primeiros passos no meio – ele chegou com tudo. Depois de uma edição especial da revista Metal Pesado (1997), foi publicado semanalmente por dois anos pelo extinto (e cultuado) caderno Fun, do jornal Gazeta do Povo. Depois, em 2002, teve algumas destas suas boas histórias em um álbum lançado pela editora Via Lettera, ganhou um filme live-action e sumiu de cena. Até que a mesma turma de criadores decidiu colocá-lo em ação neste ano, aproveitando a segunda edição da Gibicon (Convenção Internacional de Quadrinhos de Curitiba) para lançar um novo livro do personagem.
Agora sua casa é a Quadrinhópole, editora da capital paranaense dedicada a lançar obras encabeçadas por autores locais. E por ela chega Tão Banal Quanto Original, que traz mais um punhado de história do Gralha contra um “seleto” de inimigos encabeçado pelo maquiavélico Craniano, um ser que mistura feições humanas e símias e carrega na cabeça algo semelhante a uma enorme pessanka ucraniana (daí o trocadilho de seu batismo). Todas elas tendo como pano de fundo as ruas e costume de uma Curitiba futurista, porém não muito diferente daquela que se conhece hoje em dia.
“Várias das histórias deste álbum já estavam prontas há pelo menos dez anos”. É o que revela Antonio Eder, integrante da turma de criadores do Vigilante das Araucárias. “Elas foram feitas para o que seria um segundo livro pela Via Lettera. Só que houve uma troca de editores por lá e o projeto acabou sendo descartado”, acrescenta José Aguiar, também “pai” do super-herói e um dos roteiristas das histórias que compõem Tão Banal Quanto Original.
Lenda urbana
Mas o que há de mais significativo no segundo álbum não vem exatamente da arte sequencial. Está em uma página, onde os quadrinistas curitibanos fazem um ligeiro mea culpa para desfazer um grande mistério. Quando eles criaram o personagem, em 1997, disseram que ele seria um descendente do Capitão Gralha, super-herói publicado em revista própria, por apenas três edições que se tornaram raríssimas com o tempo, pelo também curitibano Francisco Iwerten. O fato é – assume agora a turma – que o tal Iwerten nunca existiu e a esta “história” só está sendo contada em 2014, com a volta do Gralha.
“Com o passar dos anos tudo isto se tornou uma grande dor-de-cabeça para a gente. Muita gente começou a pesquisar sobre o Francisco Iwerten e muita lenda também foi sendo criada em torno dele através de internet, tudo recheado de informações que a gente nunca havia passado antes”, relata Éder. “Em 2006 chegaram a considerá-lo um “mestre” do quadrinho nacional em um importante prêmio de HQ. Já veio até escola de samba atrás da gente para saber mais sobre o Iwerten, porque queriam homenageá-lo em um enredo. Então decidimos dar um basta nisso antes que se chegasse a algo fora do controle”, acrescenta. “Se a gente não falar agora, é capaz de, daqui a pouco, chegar alguém da prefeitura propondo colocar uma estátua dele no centro da cidade ou então algum político sugerir dar o nome dele a alguma rua.”
Segundo os boatos espalhados pela turma durante os primeiros anos de existência do Gralha, Francisco Iwerten fora um desenhista curitibano que embarcou para os Estados Unidos junto com outros artistas (Carmen Miranda inclusive) na virada dos anos 1940, naquela “política de boa vizinhança” realizada junto ao Brasil no início da Segunda Guerra Mundial. Então por lá Francisco teria passado um bom tempo, onde aprendeu a fazer histórias em quadrinhos, chegando até a estagiar com Bob Kane, o criador do Batman. Ao retornar, ele teria decidido embarcar na aventura pioneira de criar um super-herói alado, que carregava no nome uma das grandes referências à cultura paranaense (a ave gralha-azul, que se alimenta de pinhão, a semente da araucária), e editar a produção que ele mesmo fazia, até a sua morte, no ano de 1943. Portanto, em uma cidade tão cheia de lendas urbanas, o Capitão Gralha e mesmo seu criador acabaram se tornando uma de suas mais recentes.
Brincando com estereótipos
Todo este crescente interesse pela vida e obra de Iwerten é só um reflexo da consolidação da importância do Gralha no cenário nacional dos quadrinhos. Mesmo sem ter sido publicado nos últimos doze anos, o super-herói curitibano aproveitou-se da explosão da internet para se tornar grande referência para a nova geração de quadrinistas e apreciadores da arte na cidade, que vivem espalhando novas ilustrações dele pela rede. Aliás, a multiplicidade de traços sempre foi uma das principais características do Gralha desde o seu surgimento, já que as histórias dele nunca foram primazia de apenas um desenhista.
“O que é mais interessante em tudo isso é que o Gralha sempre foi o terreno onde a gente pode brincar com os estereótipos do super-herói dos quadrinhos. Ele tem poderes mas nunca resolve nada com eles. Aliás, os fatos nas histórias se resolvem por si só. Tudo acontece e muitas vezes o alter ego de Gustavo Gomes nem chega a interferir em algo. Neste novo álbum ele chega até a abandonar o uniforme”, revela Éder. Outro segredo do sucesso é que aqui também há muitas referencias à História e a locais da capital paranaense. Sem falar nos costumes do povo, coisa com a qual os próprios curitibanos adoram brincar.
E esta febre do Gralha não só o trouxe de volta para histórias inéditas, como também apertou o gatilho de livros que devem ser publicados a cada dois anos – sempre de acordo com a realização de novas edições da Gibicon. Para comemorar seu comeback, inclusive, os quadrinhistas se aliaram a um grupo de artistas plásticos que confeccionaram 50 unidades de um boneco moldado em resina. Sim, o Gralha já virou uma memorabilia para colecionadores, com direito a edição limitadíssima (e numerada), que vem com certificado de autenticidade de seus criadores e um estojo de luxo com uma mini-história de apresentação do personagem (para quem ainda não o conhece direito).
Por isso é bom que tomem cuidado mentes do mal como Craniano, Homem-Lambrequim, Bagre Humano, Pivete Cybertécnico, João Ninguém e Dr Botânico. O Paladino das Araucárias está de volta para atrapalhar os planos de todos eles. Mesmo que da forma mais curiosa e inesperada possível para alguém que veste o uniforme e carrega o fardo de ser um super-herói.
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O GRALHA por José Aguiar
29 de Junho de 2000 

De todos os quadrinhos nacionais surgidos nos últimos anos, qual deles conseguiu alcançar 80.000 leitores mas semanalmente? E mais: são 320.000 exemplares mensais circulando somente no Paraná. Pois é, o Gralha  (até onde sabemos) é o único personagem brasileiro que goza desse privilégio. Mas é claro que você deve estar se perguntando: "Quem diabos é esse Gralha, que eu nunca vi mais gordo?"
  Praticamente todos os mais recentes títulos de quadrinhos produzidos em nossas terras tiveram destino não muito promissor. Isso por uma série de fatores, entre eles o simples desinteresse do público, que fez das bancas um território nada convidativo às HQs como gostariam artistas e leitores. Por esta razão, você não encontrará (pelo menos por enquanto) em nenhuma banca do país uma revista do Gralha, esse ilustre desconhecido.
  Como você deve estar cansado de saber, os quadrinhos tornaram-se o fenômeno que são hoje graças aos jornais, que desde o início do século, abriram espaço a desenhistas e suas criações. Houve tempo (hoje cada vez mais distante) em que havia suplementos inteiros dedicados aos quadrinhos. Hoje os jornais já não dão tanta importância (nem espaço), mas, mesmo assim, muita coisa boa tem surgido neles. Nomes como Fernando Gonzales, Laerte, entre outros, sabem usar como ninguém o reduzido espaço hoje dedicado às tiras de quadrinhos. Ou seja, os jornais ainda são um bom refúgio. E foi aí que esse tal de Gralha (com o perdão da expressão) se aninhou.



UMA RECRIAÇÃO EM GRUPO
Na verdade, ele surgiu em outubro de 1997, numa edição da extinta Metal Pesado, um especial feito em comemoração aos 15 anos da Gibiteca de Curitiba, mas que pouca gente viu ou ouviu falar, apesar da revista ter recebido um troféu HQ Mix no ano seguinte. Para realizá-la, foram convocados vários quadrinhistas locais. Entre eles, havia um grupo que decidiu fazer uma homenagem a um ícone desconhecido dos quadrinhos curitibanos, o Capitão Gralha. Publicado no início dos anos quarenta pelo também desconhecido Francisco Iwerten, o personagem já trazia na bagagem muitos dos conceitos dos super-heróis que começavam a nascer nos EUA. Fugitivo de um planeta de homens-pássaros, regido pelo terrível Thagos, o usurpador, ele encontrou refúgio na Terra, onde utilizava seus poderes alienígenas no combate ao crime no Paraná. Misto de Flash Gordon com Super-Homem, o personagem teve vida breve. Foram publicados apenas dois números de suas aventuras, antes desse trabalho pioneiro mergulhar no mesmo abismo reservado a tantos precursores das HQs nacionais. Infelizmente, ninguém sabe se ainda existe algum exemplar de suas revistas.
Entre os quadrinhistas do grupo, foi unânime que um homem alado, com um "G" no peito e um bigodinho tipo "Errol Flynn" não seria muito bem visto pelos leitores de hoje. Optou-se então por criar uma versão atualizada do datado Capitão. Alessandro Dutra criou o visual, Gian Danton e eu, José Aguiar bolamos a história. Antonio Eder, Luciano Lagares, Tako X, Edson Kohatsu e Aguiar encarregaram-se da arte e Nilson Miller fez a capa da edição. Apesar do resultado irregular e dos estilos conflitantes de seus desenhistas, o Gralha fez sua estréia. Um ano depois o personagem ganhava sua página semanal no caderno Fun da Gazeta do Povo, onde continua suas aventuras não mais como um alienígena de bigode, mas como um adolescente que descende do Capitão Gralha original. Um herói iniciante em uma metrópole um pouco diferente da Curitiba de hoje.
Por sinal, a Curitiba do Gralha é um personagem à parte em seu universo, onde todas as características da verdadeira são elevadas à enésima potência. Localizada num futuro indeterminado, ela cresceu tanto a ponto de englobar os municípios adjacentes como bairros seus. Convivendo com um mar de arranha-céus gigantescos, estão pinheiros e muitas, muitas árvores que demonstram que, ainda no futuro, a cidade quer manter o título de capital ecológica. Em contraste com cidades fictícias como a sombria Gotham City, a Curitiba do Gralha parece crescer ordenada e infinitamente, chegando até mesmo ao Atlântico. Na verdade ela é o paraíso de qualquer super-herói. Todos os lugares comuns nela existem. Desde o cais do porto, uma base de foguetes e até mesmo a única usina nuclear não poluente do mundo, localizada em meio a uma floresta de araucárias.





O crime ainda resiste. E os super-vilões estão à solta. Araucária, Café Expresso, Biscuí do Mato, Pivete Cybertécnico, Homem Lambrequim, Doutor Botânico, Polaquinha e Bagre Humano são alguns dos extravagantes criminosos invariavelmente enviados à ilha-prisão do A.H.Ú. pelo Gralha. Isso quando o misterioso supergênio conhecido como O Craniano, cuja cabeça gigantesca é tatuada como uma pêssanka (aqueles ovos pintados pelos ucranianos na páscoa) não está tramando alguma artimanha. Definitivamente, todos os elementos "clássicos", – por que não? – "clichês" dos quadrinhos de heróis estão presentes nas HQs do Gralha. Mas nem por isso espere vê-lo como tantos heróis que habitam as banca por aí.

Sim, você vai encontrar cientistas loucos, mutantes e vilãs boazudas no universo do Gralha, mas não como está acostumado. Pra começo de conversa, ele é um homem fantasiado de passarinho. Quer coisa mais ecologicamente correta, e – por que não?– ufanista, do que ser uma Gralha? Não é a intenção do personagem se tornar um Batman tupiniquim. Não que ele negue as influências. Do Homem-Morcego, passando pelo Super-Homem ao Homem-Aranha, há de tudo um pouco em sua formação. Desse caldeirão de referências é que é feito o Gralha. Na verdade, trata-se de uma grande catarse coletiva de todas as porcarias super-heroísticas produzidas nos últimos sessenta anos. Outro choque que o leitor pode ter é a grande variedade de estilos e interpretações que o personagem apresenta. Numa era de astros siliconizados como os da Image Comics, onde todos são clones de clones, o Gralha aposta na diversidade. Tanto de estilos quanto de opiniões... para desespero de alguns leitores que só querem saber de mesmices.
Prestando atenção, às suas histórias você perceberá que alguns de seu autores nem gostam muito de super-heróis e que outros abertamente os detestam. Há aqueles que o desenham cartunizado, um punhado realisticamente ou até mesmo abstrato...E ainda assim ele é um só. Antonio Eder, Tako X, José Aguiar, Augusto Freitas, Luciano Lagares, Edson Kohatsu, Jairo Rodrigues, Rogério Coelho, Eduardo Moreira e outros que ainda devem se juntar ao Gralha, cada um à sua maneira peculiar contribuíram nesse primeiro ano do herói. Enfim, se nessa breve carreira, ele já rendeu tantas ou mais versões que o próprio Batman, em todas as suas décadas, imagine só o que o tempo reserva para o nosso singular "Vigilante das Araucárias".




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GUIA DOS QUADRINHOS

O Gralha. Super-herói curitibano. (ALR)


O Gralha é o herói curitibano, cujo alter ego é o jovem estudante pré-universitário Gustavo Gomes (olha a aliteração aí, como em Peter Parker, Clark Kent, Lois Lane... Já havia notado?). Inspirado no Capitão Gralha, personagem da década de 40, o Gralha é um herói que mistura ação e humor em suas aventuras defendendo a capital paranaense em um futuro não muito distante de vilões como Araucária, Café Expresso, Biscuí do Mato, Pivete Cybertécnico, Homem Lambrequim, Doutor Botânico, Polaquinha e Bagre Humano, extravagantes criminosos invariavelmente enviados à ilha-prisão do A.H.Ú. pelo Gralha. Isso quando o misterioso supergênio conhecido como O Craniano, cuja cabeça gigantesca é tatuada como uma pêssanka (aqueles ovos pintados pelos ucranianos na páscoa) não está tramando alguma artimanha..

http://www.universohq.com/quadrinhos/gralha.cfm
http://www.gibitela.hpg.com.br/gralha.htm

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