Vídeos

O Gralha: O Ovo ou a Galinha



A Produção

Assim que terminamos o curso de cinema com a diretora Tizuka Yamasaki, eu apresentei ao grupo de alunos a proposta de realizar um curta live-action com o Gralha, com a condição que eu dirigisse. Bolei o roteiro e chamei meu amigo Eduardo Moreira pra encarnar o super-herói. Todos gostaram e partimos pra produção. A maioria eram jovens universitários com muita vontade e sem emprego, o que garantiu a dedicação total do grupo no mês de preparação do filme.

Corremos atrás de patrocinadores e parceria com empresas de edição de vídeo que se mostraram dispostas a colaborar e serem parceiras do projeto. Rodamos em duas semanas e editamos em dois meses o curta-metragem. O filme é todo original, inclusive a trilha sonora e incidental, algumas foram feitas exclusivamente para o filme e outras foram cedidas por bandas locais pra uso no curta.

O resultado ficou melhor do que eu esperava, houve um empenho realmente muito grande para que o resultado saísse profissional, por parte de toda equipe técnica, desenhistas, atores, músicos, profissionais de CG. Havia o câmeraman que já havia trabalhado com o Walter Avancini, e o editor já havia trabalhado na Globo local, e outras pessoas muito competentes em cada área, ou seja, não tinha como sair ruim.

A recompensa desse esforço acabou sendo a premiação de Melhor Filme pelo juri popular do Festival de Cinema e Vídeo de Curitiba de 2003. Depois fizemos somente mais um curta com ainda menos recursos pessoais e de verba, dessa vez com uma câmera digital (o outro foi em beta) chamado "O Gralha e o Oil-man - um Encontro Explosivo" contando o inusitado encontro entre as duas lendas vivas de Curitiba.

Diferenças entre fazer quadrinhos e fazer cinema

O trabalho de um quadrinista é solitário, é praticamente só você, suas idéias, seus materiais e o papel à sua frente; cinema é um trabalho coletivo, e o produto final vai ser sempre a soma de cada pessoa envolvida no projeto.

Depois desta experiência eu posso afirmar que a autoria de um filme nunca pode ser creditada a uma só pessoa, como acontece na literatura ou mesmo nos quadrinhos. E eu acredito que isto é o que dá ao cinema este charme - é preciso trabalhar em equipe, ouvir todo mundo, filtrar as idéias, aceitar sugestões e se adaptar ao que você tem em mãos, para contar uma história - este equipamento, esta equipe, estes atores, estas locações, esta luz, este orçamento. E quanto maior o dinheiro envolvido, mais controle você poderá ter sobre a imagem final. Nos quadrinhos, basta ter talento gráfico, alguma idéia interessante na cabeça e um bom tanto de empenho e obstinação.

Processo de trabalho

Minhas maiores influências em termos de cinema: Spielberg, Tarantino e M. Night Shamalayan. Nos quadrinhos: Frank Miller e Bill Waterson.

Para poder imaginar as cenas do filme, comecei fazendo o roteiro simultaneamente com os esboços do storyboard (que já é uma espécie de HQ). Minha experiência de desenhista de quadrinhos pode ter facilitado a visualização das imagens do filme na hora de criar o roteiro, mas na hora da gravação, algumas coisas que imaginei (e que funcionavam no storyboard) não funcionaram muito bem no monitor, então tive que ir alterando o próprio roteiro à medida que filmávamos.
Então eu ouvia as sugestões da equipe para resolver determinada cena e depois tinha que decidir rápido, pois o tempo de filmagem era curto - só podíamos filmar até as 18 horas, enquanto havia sol. Então, nessas horas eu me tornava um editor de ideias.

Existem muitas maneiras de se mostrar uma ideia na tela, mas na hora de dirigir um filme você, muitas vezes, tem que decidir qual é a maneira mais adequada em um espaço de tempo muito curto, pois a equipe está toda ali, diante de você, esperando apenas uma decisão sua.

Neste filme a minha maior influência não veio do próprio cinema e sim dos quadrinhos: a de Frank Miller, principalmente pelo seu "Cavaleiro das Trevas" e "Batman - Ano Um", no tom intimista e no tratamento mais dark da imagem do herói.

Dos quadrinhos para a tela

Cinema é ilusão. É você mostrar apenas uma parte da realidade e fazer o espectador preencher o resto com a imaginação dele. Neste aspecto é muito parecido com os quadrinhos que também usam de fragmentos da realidade para contar uma história.

A transposição dos quadrinhos para a tela foi realmente muito difícil, porque nos quadrinhos praticamente tudo é possível, e você não precisa convencer o leitor de que aquilo é real. Não é, pois é apenas tinta no papel. Já no cinema você tem que ser mais convincente. O público só vai participar da ilusão se você conseguir "enganar" os olhos da audiência (a tal da suspensão temporária da realidade) e fazer o público participar da sua proposta. Então procuramos trabalhar em cima das nossas limitações e fazer um filme possível de ser feito dentro destas limitações tecnológicas e orçamentárias.

Embora tenha sido interessante trabalhar com esta escassez de recursos, que nos fez procurar soluções baratas e usarmos a criatividade o tempo todo. Costumo dizer que este filme possui dois orçamentos (somente para pré-produção e filmagem): o verdadeiro (em torno de ciquenta mil reais) - se todas as pessoas envolvidas tivessem sido remuneradas, assim como os equipamentos particulares e locações tivessem sido pagos) e o real (de R$ 2.000,00) - que é aquele mínimo básico de materiais sem as quais não seria possível nem mesmo gravar o filme, como as fitas Beta, combustível, alimentação, figurino, maquiagem e alguns objetos de cena. E este último valor foi levantado graças ao apoio de algumas boas almas que ainda acreditam no valor do trabalho artístico e um outro tanto dos nossos próprios bolsos.

Diferenças entre quadrinhos e cinema

O cinema é uma experiência fascinante por envolver dois de nossos sentidos: a audição e a visão, enquanto os quadrinhos só podem utilizar um - a visão.

O problema que eu via na leitura dos quadrinhos, é que os desenhos, muitas vezes, pareciam atrapalhar o ritmo da narrativa. Você não pode obrigar alguém a ler com o ritmo certo e com o sentimento que você espera que ele sinta e nem que não se distraia com os desenhos (muitas vezes maravilhosos!).
Já o cinema possibilita um controle maior sobre o ritmo da narrativa e com a ajuda da música e da fotografia, criar o clima correto. Sem falar no trabalho do ator, que usa seu talento para expressar os sentimentos e emocionar a audiência.

Cumplicidade

Os quadrinhos e o cinema necessitam da cumplicidade do leitor/espectador para contar uma história. Muitas vezes, você tem que sugerir que algo está acontecendo e mostrar apenas porções da ação para confirmar isso.

Se numa HQ você mostra pessoas voando e explica que isso foi devido a uma super-máquina inventada por um cientista aliénigena, o leitor vai ter que aceitar esta realidade, esta premissa básica, senão ele nem vai querer continuar a ler, caso acredite que isso "é impossível!!!".

No cinema também acontece isso: você tem que explicar tudo que vê na tela ao espectador, por mais que essa explicação seja esdrúxula. E com uma diferença básica: enquanto nos quadrinhos a ilusão é parcial (o que você vê são desenhos e não há som), exigindo do leitor um grau de cumplicidade maior, no cinema a ilusão é mais completa (principalmente no live-action), então você tem que ser mais convincente na criação da sua ilusão.

O espectador quer ser surpreendido, enganado mesmo, voluntariamente, mas você não pode ofender sua inteligência porque ele quer acreditar no que está acontecendo na tela, nem que seja por alguns minutos (suspensão temporária da realidade - como citado por Syd Field).

Escolha dos atores

O Gralha foi ficando cada vez mais jovem e magro nos quadrinhos à medida que desenhávamos ele. Então foi uma escolha até óbvia escolhermos o cartunista Eduardo JR Moreira que também participou da gênese do Gralha, e tinha o biotipo adequado (apesar de não ser assim tão jovem, sempre aparentou menos idade).

Afinal quem tem superpoderes não precisa necessariamente ter um corpo atlético ou ser um galã. Gostaria que as pessoas se identificassem com um cara comum que poderia ser o seu melhor amigo ou você mesmo. Já o Craniano exigia um ator mais experiente, já que o personagem é mais complexo (por isso, às vezes, o vilão é mais interessante que o mocinho).

Grupo Photon Filmes

Este filme só foi possível graças ao empenho deste grupo, que se conheceu num curso de cinema, em 2001, e resolveu abraçar este projeto com uma vontade e paixão que só poderiam vir de um grupo tão entusiasmado e apaixonado pelo cinema como este.

Fica aqui registrado meu profundo agradecimento à toda a equipe que participou deste filme, todo o apoio e à confiança que depositaram em mim, por terem me deixado dirigir o filme, apesar da minha falta de experiência no ramo. E por terem me dado o privilégio de realizar este antigo sonho meu.
Tako X



O Gralha + Oil Man: Um Encontro Explosivo



A proposta de "O Gralha + Oil-Man: Um Encontro Explosivo"

A ideia do encontro do Gralha com o Oil-Man, o biólogo Nelson Rebello (que besunta o corpo com óleo e sai andando de bicicleta pelas ruas da capital), aconteceu depois do sucesso de sua pequena participação em O Ovo e a Galinha (numa cena rápida com o Craniano). Escrevi o roteiro do curta, mas sem consultar Rebello sobre sua possível atuação. Inicialmente, ele não quis participar da fita, ele teve uma má experiência num curta anterior, e por isso estava relutante em participar, mas aceitou liberar o nome do personagem para ser interpretado por um outro ator. Mas acabou gostando do roteiro e me telefonou concordando em participar como ator alguns dias antes da gravação. Ficamos com medo, porque ele se atrasou no dia em que gravamos o vídeo. Mas ele veio e foi muito simpático com toda a equipe durante toda a produção.

Como não havia recursos financeiros e a equipe era menor que da vez que fizemos o "O Ovo ou a Galinha" resolvi fazer este curta em 3 partes, para parecer maior do que realmente era. Na verdade o curta tem apenas 10 minutos, contando com a animação no início e o trailer no final. Mas foi uma maneira de experimentar o Gralha no formato desenho animado também, com um roteiro bem simples, onde mostrava basicamente o que é o motivo de toda rivalidade e competição no mundo: quem é o maior, melhor, mais inteligente - e um final engraçado. O Eduardo Jr. Moreira que dirigiu a animação fez um trabalho excelente que encaixou perfeitamente na proposta do roteiro.

Para o filme do Gralha encontrando o Oil-Man, eu esperava que o titulo "O Gralha e o Oil-Man - um Encontro Explosivo" provocasse a expectativa de que o vilão fosse o Oil-man e de que haveria uma luta explosiva - o que acaba não acontecendo afinal. Na verdade, existe uma "luta" a nível mental, onde ouvimos o que se passa dentro da cabeça dos dois protagonistas, cada um "destruindo" o outro com seus pensamentos. Mas no fim, descobrimos que ambos são "gente boa" e o próprio Oil-Man acredita ser um super-herói. Quando os dois caem no buraco e encontram lá embaixo o Plá, um cantor-artista de rua, mostro sutilmente que os artistas alternativos, cartunistas e os excêntricos no Brasil estão mais ou menos no mesmo nível, ou seja, na obscuridade (infelizmente).

Um efeito positivo do filme foi passar uma imagem mais simpática do próprio Oil-Man, que era freqüentemente agredido e mal-tratado nas ruas por pessoas que o consideravam um louco, por seu comportamento excêntrico (embora andar de sunga, besuntado, no inverno, possa talvez ser corriqueiro em lugares como o Rio de Janeiro) e por isso, acabar chamando tanta atenção. Atualmente ele tem sido visto em campanhas como garoto-propaganda na cidade. Tako X

Curiosidades

✔ Foi o único filme escolhido pela TV Cultura do RS para ser exibido na íntegra em seu programa especial sobre o Festival de Cinema e Vídeo de Santa Maria de 2004.✔ Foi exibido diariamente pelo terceiro ano consecutivo (em 2005) durante o Festival de Cinema e Vídeo de Curitiba, em sessões especiais para mais de 3 mil pessoas em uma semana.
✔ Foi exibido por três anos consecutivos no Festival de Humor de Foz do Iguaçu.
✔ Recebeu uma crítica favorável em matéria de página inteira do jornal Gazeta do Povo de Curitiba.




Peça de Teatro "A Cidade do Pecado", de Edson Bueno





Durante o Festival de Teatro de Curitiba 2005, foi encenada, de 21 a 26 de março, a peça "O Gralha: Curitiba, cidade do Pecado", escrita e dirigida por Edson Bueno. A montagem, inspirada em roteiros já publicados e inéditos de José Aguiar, foi levada aos palcos do Teatro Lala Schneider pelo grupo teatral Cia. Máscaras de Teatro.



Hino d'O Gralha



Vozes de Alessandra Freitas e Saulo Trada. Música de Tako X e James Bertisch. Letra de Tako X. Mixagem de som de Saulo Trada. Edição de vídeo de Jyudah.


Curta O Gralha no Facebook

Compre O Gralha - Artbook

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *